Larry Page é tão vital à Google quanto Jobs foi para a Apple? [opinião]

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(Fonte da imagem: Reprodução/Wired)

Durante a última conferência de investidores da Google, no qual a companhia divulgou seus resultados financeiros do último trimestre fiscal, Larry Page fez uma declaração que surtiu preocupações quanto ao futuro da empresa. Na ocasião, o CEO declarou que vai se afastar de eventos do tipo no futuro, que passarão a ser conduzidos pelo CFO Patrick Pichette e pelo CBO Nikesh Arora.

“Eu sei que vocês adorariam ter minha presença, mas vocês também dependem do fato de que preciso priorizar como uso meu tempo para beneficiar o negócio”, explicou Page. Apesar das declarações do executivo não indicarem a existência de problemas, o simples afastamento dessa atividade foi suficiente para que surgissem rumores indicando que ele está prestes a deixar a companhia.

Diante disso, não demorou muito para que os mais fatalistas passassem a acreditar que a Google está condenada caso Page deixe seu cargo. Afinal, foi sob sua liderança que a companhia se tornou um verdadeiro gigante do mundo das buscas que lucra cifras bilionárias através de seu sistema de publicidade.

Como em qualquer caso que envolve o termo CEO, logo surgiram comparações entre o executivo e Steve Jobs, figura que se tornou quase sinônimo do cargo. No entanto, ao menos se depender da resposta dos investidores, que elevaram em 13% o valor das ações da companhia após a conferência, não há com o que se preocupar quanto ao futuro da companhia.

Posição confortável

Um dos grandes motivos pelos quais a ausência de Page não faria tanta diferença para a Google quanto a falta de Steve Jobs fez para a Apple é o fato de a companhia possuir uma posição bastante confortável no mundo da tecnologia. Serviços como o buscador da empresa e o Gmail se tornaram partes tão integrantes da internet atual que só nos lembramos ativamente de sua existência quando algum problema nos impede de acessá-los.

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Graças à hegemonia que a empresa possui nos campos em que atua, ela pode se preocupar mais em realizar iterações em seu modelo de negócio do que investir em produtos totalmente novos cujo objetivo é causar alguma espécie de furor público. Graças a isso, no último trimestre a organização conseguiu aumentar o lucro obtido por cliques em anúncios publicitários, mesmo em um cenário no qual os anúncios online passam por uma crise.

Isso significa que a Google está conseguindo analisar dados de maneira cada vez mais efetiva, o que resulta na produção de links que realmente correspondem aos interesses de seus usuários — algo que resulta em uma quantidade maior de cliques, o que, por consequência, rende mais dinheiro aos cofres da empresa.

Apesar de a organização seguir esse modelo de negócios há tempos, não há indícios de que ele vá deixar de ser sustentável em um futuro próximo. Basta se lembrar de que, há um ano, tanto as ações da Apple quanto as da Google bateram a casa dos US$ 700 — porém, enquanto os papéis da empresa da Maçã nunca atingiram esse patamar novamente, aqueles pertencentes à Gigante das Buscas agora beiram os US$ 1 mil.

CEOs com estilos diferentes

O que mais traz a certeza de que a Google ficaria muito bem sem Larry Page é o fato de seu estilo de administração diferir bastante daquele exercido por Steve Jobs. Conhecido por ser um verdadeiro showman, o falecido CEO da Apple tinha uma capacidade única de criar uma espécie de aura mágica ao redor dos produtos fabricados pela empresa, cujos anúncios eram eventos capazes de parar a indústria da tecnologia.

(Fonte da imagem: Reprodução/Google+)

No entanto, o estado mítico que Jobs adquiriu acabou cobrando um grande preço após sua morte. No imaginário popular, produtos como o iPod, iPhone e o iPad só se tornaram realidade graças à visão única do executivo, que relegava a um segundo plano as contribuições essenciais feitas pelos engenheiros e designers de sua empresa — algo que prejudica bastante a administração de Tim Cook.

Por mais que tenha provado ser um executivo competente, Cook até o momento não conseguiu escapar da sombra de seu antecessor. Não só muitos acreditam que a Apple não tem a mesma “magia” sem a presença de Jobs como a empresa tem sido criticada duramente por não entregar a mesma dose de inovação vista quando seu cofundador estava no comando.

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Já a Google tem a vantagem de não depender de grandes anúncios ou produtos inéditos para sobreviver, já que seu sistema de buscas se tornou uma parte integral da internet. Com isso, a função primordial da companhia é tentar melhorar sua plataforma de forma a convencer as pessoas a clicar nas propagandas exibidas por ela — em outras palavras, ela só precisa estudar dados e convertê-los no desenvolvimento de algoritmos mais eficientes.

Outro ponto que diferencia as companhias é o fato de Page nunca ter assumido o papel de principal responsável pelo sucesso de sua empresa. Embora caiba a ele decidir quais projetos vão ganhar mais destaque público (e um consequente incremento em seu financiamento), o executivo é conhecido por dar os devidos créditos às equipes responsáveis pelas novidades apresentadas por sua companhia.

Nem todos precisam ser Jobs

A situação de Larry Page na Google prova que, apesar de Steve Jobs ter virado uma referência quando se fala de um CEO de uma empresa de tecnologia, não é preciso seguir o modelo estabelecido por ele para ter sucesso. Embora uma liderança forte seja essencial a qualquer companhia, isso não significa necessariamente que seu comandante tenha que influenciar diretamente em cada decisão que ela segue.

Ao não assumir um papel tão ativo quanto o de Jobs, Page conseguiu assegurar que investidores vão continuar a confiar na Google mesmo que o executivo deixe seu cargo. Tudo isso graças ao fato de que, na percepção pública, o sucesso da companhia não se deve às ideias que ele teve, mas sim ao fato de a empresa contar com um time de desenvolvedores e engenheiros competentes.

A ausência de Page também não seria muito sentida graças ao modelo de negócios que ele ajudou a estabelecer nos últimos dez anos. Ao criar uma base de lucro consistente, sua companhia não precisa vir a público a cada ano para apresentar uma nova linha de aparelhos cujo objetivo é “revolucionar o mundo”, podendo assumir um posicionamento mais discreto e seguro frente ao público — algo que também permite investir em novos projetos de forma discreta, apresentando-os ao público somente quando eles já surtiram alguma espécie de resultado positivo.

A ausência de Page pode até mesmo beneficiar a Google

Mais do que provocar uma crise interna na Google, o possível afastamento de Larry Page de suas funções pode até mesmo trazer benefícios para a companhia. Embora sua administração seja considerada competente, ela está longe de ser perfeita, como bem mostra o histórico da rede social Orkut.

Tratada como um mero projeto secundário, o site teve a oportunidade de se firmar como uma das bases da internet atual. No entanto, a falta de atenção da Google fez com que o serviço perdesse espaço para o Facebook, que soube aproveitar muito bem esse nicho de mercado. Graças a essa falha, a empresa de Page foi forçada a criar um concorrente a partir do zero (o Google+), que até o momento falhou em conquistar uma fatia substancial do público consumidor.

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Outra área na qual a administração do CEO tem enfrentando dificuldades é o mercado de dispositivos móveis. Apesar de o Android ter dominado o mercado mundial de smartphones, a companhia ainda não encontrou uma forma de lucrar com anúncios publicitários voltados a esse segmento — justamente aquilo que é o cerne das operações da Google.

Um novo comando pode ser exatamente aquilo de que a organização precisa para encontrar uma maneira de resolver esse problema, algo que ajudaria a assegurar sua sobrevivência durante os próximos anos. Isso sem contar com a possibilidade de que uma nova administração pode resultar no surgimento de produtos que não teriam o devido investimento sob o comando de Page.

Vale notar que essas possibilidades não querem dizer que a administração do CEO está sendo negativa, tampouco servem como comprovação de que ele realmente vai abandonar seu cargo. Na prática, isso só quer dizer que, no contexto atual, uma transição de comando da Google não traria nem uma fração do trauma que o afastamento de Jobs trouxe para a Apple.

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