É possível comparar o hardware de um computador com o de um console?

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Estamos em uma época conturbada no mundo dos games. Esse período de transição entre gerações sempre traz muitas dúvidas quanto ao futuro dos jogos, dos consoles, dos desenvolvedores e tudo mais o que envolve a nossa diversão preferida. Com a chegada de novos projetos no mercado, como foi o recente anúncio do PlayStation 4, essa especulação toda só tende a aumentar.

Mas pouco antes da divulgação oficial feita pela Sony, inúmeros vazamentos de informações e ditas “especificações técnicas” tanto do PlayStation 4 quanto do Novo Xbox pipocaram pela internet. Quanto ao novo console da Sony, a maioria das informações acabou se confirmando, o que prova que os rumores nem sempre são infundados.

(Fonte da imagem: Divulgação/Sony)

Com esse grande volume de dados, modelos de processadores, chips gráficos e quantidade de memória, muita gente começou a comparar os aparelhos entre si, entre a geração anterior e — o pior — com computadores. Isso é até normal acontecer, uma vez que os dois novos consoles da Sony e da Microsoft podem ter processadores baseados em modelos da AMD, mas tem um outro lado na história.

Como comparar sistemas diferentes?

O problema começa a tomar forma quando surgem comparações de especificações técnicas entre sistemas diferentes: esse tem mais memória, aquele tem o mesmo chip gráfico que a placa de vídeo de última geração, o outro usa o mesmo processador que o meu computador.

Isso acaba levando muitos a tirarem conclusões precipitadas — e erradas — sobre qual sistema é melhor (ou não). Isso pode ser explicado por um simples fato: comparar dados técnicos de hardware de sistemas diferentes não faz o mínimo sentido, mesmo que o processador encontrado em um PlayStation 4 seja o mesmo AMD Fusion de oito núcleos montado em um desktop de mesa.

(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia)

O motivo desse equívoco é simples: um console é uma arquitetura fechada. O processador, o chip gráfico, a memória, a placa-mãe e absolutamente todos os componentes que integram o sistema se “conhecem” e foram desenvolvidos para trabalhar em conjunto, algo que não acontece em um PC.

Mesmo que o hardware seja absolutamente o mesmo tanto na Sony quanto na Microsoft, teríamos máquinas diferentes, já que os engenheiros de cada uma das empresas trabalhariam de forma distinta com os equipamentos.

RISC, CISC, x86, o que é isso?

Os processadores são basicamente conjuntos de transistores que podem interpretar comandos enviados a eles. Para que eles saibam como identificar essas informações, existem muitas arquiteturas diferentes e modos de interpretação de comandos.

O RISC ou Reduced Instruction Set Computer (que significa Computador com um Conjunto Reduzido de Instruções) é uma arquitetura mais simplificada que favorece a velocidade e o menor número de instruções possíveis para a execução dos comandos. Dessa maneira, os processadores RISC são mais rápidos, mas possuem muito menos compatibilidade por possuir um conjunto de instruções mais limitado.

O CISC ou Complex Instruction Set Computer (ou Computador com um Conjunto Complexo de Instruções) é uma linha de processadores que trabalha com uma arquitetura capaz de executar centenas de instruções complexas diferentes ao mesmo tempo. Dessa forma, eles são mais compatíveis, mas ligeiramente mais lentos que a arquitetura RISC, já que precisam lidar com comandos mais complicados.

(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia)

O x86 é uma família de arquiteturas baseadas no processador Intel 8086, lançado em 1978. Esse sistema evoluiu e foi implementado na maioria dos processadores para PCs, sendo utilizado até hoje nas CPUs Intel e AMD. Essa arquitetura era primariamente baseada no sistema de instruções CISC, para garantir o maior número possível de compatibilidade entre os sistemas.

Contudo, muitos dos modelos de processadores atuais que trabalham com a arquitetura x86 possuem instruções RISC e uma camada por cima que traduz os comandos para CISC, coordenando o trabalho de forma muito mais eficiente.

E o que esses termos técnicos têm a ver com os consoles?

A arquitetura RISC era a preferida de alguns consoles, quando eles ainda serviam apenas para games. Por se tratarem de máquinas fechadas com um hardware dedicado, trabalhar com instruções dedicadas faz muito mais sentido, pois torna tudo mais rápido e eficiente.

Hoje em dia, os consoles são máquinas muito mais complexas e que possuem inúmeras outras qualidades e funções além de somente rodar os jogos. Além disso, os processadores modernos da arquitetura x86 evoluíram muito.

(Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia)

Isso mostra que a Sony acertou em mudar de vez para a arquitetura x86 com o PlayStation 4, pois poderá fornecer aos programadores uma facilidade maior na hora de criar o conteúdo.

Essa mudança de arquitetura também parece ser a escolhida pela Microsoft no seu próximo console se os rumores estiverem corretos — o que não seria a primeira vez, já que o primeiro Xbox trabalhava com um processador derivado do Pentium III, da Intel, também com a arquitetura x86.

Como os processadores atuais são extremamente eficientes, gastam menos energia, possuem mais compatibilidade e inúmeras vantagens, é normal que os consoles passem a utilizá-los, dando novamente a impressão de que os novos aparelhos são apenas “computadores disfarçados de consoles”.

Computadores disfarçados de consoles?

Como já foi citado antes, os consoles são máquinas dedicadas. Vamos simplificar com um exemplo bem ilustrativo:

Imagine que temos duas pessoas. O primeiro é um piloto de corridas experiente, capaz de guiar qualquer carro em alta velocidade. O segundo é um experiente motorista, que pode dirigir desde carros de passeio e até mesmo caminhões, ônibus, tratores e, por que não, tanques de guerra.

O primeiro se especializou apenas em carros esporte e de corrida, é o melhor possível nisso. Ele pode até tentar guiar um ônibus, mas não sabe exatamente como fazê-lo de forma eficiente.

O segundo tratou de aprender a dirigir um número muito grande de veículos diferentes, não sendo especialista em nenhum, mas controla todos com facilidade.

Qual você acha que é mais especializado e qual você acha que é mais versátil?

Agora vamos definir as tarefas. Cada um deles precisa ir de uma cidade até outra, utilizando o mesmo veículo: uma Ferrari. Qual será mais eficiente nessa tarefa? Obviamente o primeiro motorista, já que ele estará dirigindo o seu veículo preferido.

(Fonte da imagem: Reprodução/ASUS)

Agora vamos imaginar um segundo cenário. Cada um dos dois precisa ir de uma cidade até outra, levando um ônibus cheio de passageiros, e voltar dirigindo um caminhão de carga. Qual vai se sair melhor? Obviamente que o segundo motorista, porque ele pode realizar tarefas diferentes com mais eficiência que o primeiro.

Esses exemplos servem para mostrar que os consoles são mais especializados em jogos, e os computadores em tarefas variadas. Por serem construídos com arquiteturas completamente diferentes, eles realizam tarefas de maneiras distintas, mesmo que essa tarefa seja, em teoria, a mesma.

Como o hardware e o software funcionam

Para controlar o hardware, é preciso que o sistema operacional gerencie os processos de forma eficiente. Cada componente (memória, GPU) precisa de um driver específico para funcionar: é esse pequeno software que faz a ponte entre o sistema operacional e os dispositivos de hardware.

Em um console, pela arquitetura ser fechada, os softwares (os games) podem “conversar” com os dispositivos de hardware de forma direta, de maneira muito mais eficiente que em um computador, já que os programadores desenvolveram o aplicativo conhecendo exatamente a máquina que vai gerenciá-lo.

Quando analisamos esse aspecto pelo lado de um PC normal, temos uma combinação praticamente infinita de possíveis arquiteturas trabalhando em conjunto, o que obriga os programadores a desenvolver os aplicativos com o máximo de compatibilidade possível e, depois disso, otimizar o código de maneira “genérica”.

(Fonte da imagem: Divulgação/NVIDIA)

Um sistema operacional moderno como o Windows precisa lidar com qualquer combinação possível de hardware para funcionar adequadamente. Para facilitar essa tarefa, o Windows traz uma série de interfaces “genéricas” que são utilizadas para se comunicar com o hardware.

Por causa disso, muitos recursos nos computadores são desperdiçados, já que o sistema operacional precisa manter a compatibilidade alta. Isso faz com que os aplicativos desenvolvidos para os consoles sejam mais “leves”, mesmo que o hardware em ambas as máquinas seja o mesmo.

Por outro lado, essa maior capacidade de adaptação permite que os PCs vejam novas tecnologias antes que os consoles, uma vez que estão em constante mutação e desenvolvimento. Você pode trocar a placa de vídeo do computador, mas não pode fazer isso com um console.

Se o hardware é o mesmo, qual dos sistemas é melhor?

A verdade é que nenhum é melhor e nem pior. Eles são apenas sistemas diferentes, construídos de forma diferente e que trabalham de maneira distinta, mesmo que as tarefas executadas sejam as mesmas.

É possível encontrar pontos positivos e negativos em ambos os sistemas. Enquanto temos uma otimização maior no hardware dos consoles, temos uma compatibilidade e versatilidade muito maior nos computadores.

(Fonte da imagem: Divulgação/Sony)

Portanto, lembre-se: na hora que você vir uma lista de especificações pela frente, entenda que ela serve apenas como parâmetro e de forma alguma pode ser utilizada como base para definir qual sistema é melhor, já que cada um trabalha de maneira distinta com as ferramentas que possui.

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