Ter ou não ter: ainda precisamos de manuais em nossos jogos?

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Ampliar (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Dez anos depois, ainda me lembro de como foi comprar meu primeiro jogo. Após juntar o dinheiro do lanche e os restos da minha mísera mesada por muito tempo, consegui economizar o suficiente para comprar Pokémon Crystal, o game mais esperado para uma criança de 12 anos no longínquo ano de 2001. Embora isso não seja nada fantástico hoje em dia, na época foi um feito e tanto.

Foi exatamente por isso que, antes mesmo de colocar o cartucho em meu Game Boy Color, fiz questão de aproveitar toda a experiência que aquela pequena caixa me reservava — o que incluiu ler cada página do manual. O chamado “Guia do Treinador” podia até não ser a melhor maneira de conhecer o jogo, mas foi o suficiente para me preparar pelas centenas de horas que passei em Johto.

E tenho certeza de que isso não aconteceu só comigo, mas com outros jogadores em seu primeiro contato com um jogo. Aquele livrinho que acompanhava o game podia até estar em um idioma que você não entendia, mas era algo que você fazia questão de folhear e ver as figuras. Era o pontapé inicial da imersão de muita gente.

AmpliarO manual se foi, mas as lembranças ficaram. (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

No entanto, essa relação com o manual de um jogo ainda existe? Alguém ainda dedica seu tempo a ler e conferir o que está escrito naquele pedaço de papel ou as pessoas o deixam apenas como elemento decorativo dentro da caixa, partindo logo para a ação? Afinal, ele ainda é necessário ou apenas um desperdício de material?

Por um mundo menos redundante

É claro que os jogadores mais velhos têm suas boas memórias com os manuais do Super Nintendo ou Game Boy Color, mas são exceções de quem viveu outra era dos games. O momento digital e incrivelmente ágil em que estamos fez com que esses pequenos guias se transformassem em algo que pode ser facilmente descartável. No entanto, por quê?

A primeira grande causa do desinteresse no livreto que acompanha nossos jogos é o simples fato de que, para muitos, ele não tem utilidade alguma. Quem já ficou preso em determinada parte de um game ou não aproveitou bem alguma mecânica por não ter lido as instruções antes? Praticamente ninguém.

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A verdade é que os manuais são elementos incrivelmente redundantes, não trazendo nada que realmente justifique a leitura. Faça um exercício: revire sua coleção e procure algum guia com informações realmente adicionais ou que façam a diferença no gameplay. Na grande maioria dos casos, você vai encontrar apenas mapas dos controles, explicação de algumas novidades e um resumo do que é a história e quem são seus personagens — ou seja, tudo aquilo que o próprio jogo vai apresentar de alguma maneira.

Desse modo, por que eu iria perder meu tempo lendo algo que eu serei obrigado a ver novamente e de uma maneira muito mais interativa? Imagine que você passou algumas horas tentando entender os detalhes de um novo Final Fantasy apresentados em um desses livretos para, em seguida, encontrar todo esse mesmo conteúdo novamente em uma maratona de tutoriais.

Revolução digital

Diante de tudo isso, não é estranho imaginar por que as produtoras começaram a economizar cada vez mais na produção dos manuais, fazendo com que os livros de instruções ficassem cada vez menores e mais sucintos — a ponto de simplesmente desaparecerem.

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Você já deve ter reparado nisso. Algumas empresas perceberam que o jogador realmente não se importava com o manual e eliminaram as páginas que ficavam na parte esquerda da caixa, substituindo-as por panfletos de outros títulos ou pelos códigos de acesso ao modo online.

“Mas e se eu quiser tirar uma dúvida de como o jogo funciona?” Se você se fez essa pergunta, é porque você realmente não precisa de um guia explicativo. Muitos games trazem o chamado manual digital dentro do próprio disco para que você acesse essas informações quando necessário — o que, certamente, quase ninguém fez. Se você não morreu por não saber disso, é porque eles nunca fizeram falta.

O outro lado

Com toda essa argumentação, você deve ter se convencido de que os manuais não servem mais para muita coisa a não ser deixar a caixa de seu jogo mais pesada e fazer com que o valor do frete de sua encomenda fique maior, não é mesmo? Pois saiba que, mesmo que sua utilidade seja consideravelmente questionável, eles ainda têm sua importância.

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Primeiramente, temos a própria satisfação — muitas vezes ligada à nostalgia —ao adquirir um jogo novo. Pode ser algo muito subjetivo, mas faz parte da rotina de muita gente. Abrir a caixa, olhar o disco e folhear o manual — há quem goste de cheirar o CD, embora isso torne as coisas um pouco menos ortodoxas — são partes de um processo que antecede o momento em que a mídia é colocada no video game e que faz toda a diferença.

Trata-se de um costume do qual muito jogador se nega a abrir mão. Assim como quem ainda não consegue se acostumar ao formato digital, há quem acredita que a compra só foi “completa” quando a caixa e o guia estão devidamente guardados em sua estante. Seja por conta da tradição, da nostalgia ou por um simples transtorno obsessivo compulsivo, ainda há razões para o bom e velho manual não desaparecer.

Além disso, não podemos negar que as poucas pessoas que realmente leem esses livros de instruções o fazem por conta da experiência. Imagine como um “Guia do Treinador” é capaz de empolgar uma criança quando ela abre a nova edição de Pokémon. Por mais específico que isso seja, todos nós ainda temos um pouco dessa animação — mesmo que inconsciente — que torna a imersão ainda maior.

Ter ou não ter?

É muito complicado ser taxativo e dizer que os manuais devem ou não deixar de existir. Como dito, eles vão atuar de maneiras diferentes em como o jogador vai mergulhar dentro do jogo, fazendo com que a conclusão varie de pessoa para pessoa. Por mais que eu ainda valorize essas instruções, há quem ache que elas são completamente desnecessárias.

(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

Porém, de nada adianta as produtoras continuarem investindo nesse conteúdo adicional se não dão o devido tratamento. Embora pareça uma reclamação de um velho nostálgico, é inegável o fato de que os livros de instruções eram muito mais trabalhados há algumas gerações do que atualmente.

De nada adianta me oferecer um guia com letras minúsculas em um fundo branco com centenas de informações repetidas. Isso é apenas um convite para que ninguém realmente se interesse por aquele conteúdo. No fim das contas, o material do manual deve ser tão intrigante quanto o próprio jogo, a ponto de me fazer dedicar alguns minutos que poderiam estar sendo gastos em frente à TV.

Ampliar (Fonte da imagem: Reprodução/Mercado Livre)

A forma com que isso pode ser feito é bem variada, indo desde trazer conteúdo adicional que complemente a história principal — como no caso de Final Fight, que trazia um perfil do personagem, revelando pontos que a trama não abordava, como o fato de Poison ser uma transexual — ou reforçando o caráter de redundância citado anteriormente, mas de uma maneira muito mais interessante. Em vez de trazer algo pasteurizado e sem graça, por que não resgatar os visuais bem trabalhados feitos na época do Nintendo 64 ou em algo diferenciado, como em Metal Gear Solid 4?

Se for para ter um pedaço de papel inútil pesando meu jogo, que vá pela sombra, pois dificilmente sentiremos saudades.

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